Erasmo Moreira de Carvalho
macarva@usp.br
Universidade Federal de Rondônia

Mina Dânae Franco Gomes
macarva@usp.br
Faculdade São Lucas

RESUMO

O presente estudo é um ensaio teórico que tem como objetivo proporcionar uma reflexão sobre o processo de desterritorialização social e desorganização das redes socioeconômicas dos povos tradicionais em função da construção dos grandes projetos hidrelétricos no território abrangido por esses povos. A reflexão sobre esse conflito leva em consideração a disputa assimétrica, em termos de poder, entre os atores sociais pelos espaços geográficos, socioculturais, políticos e econômicos prevalecentes no campo em questão. Território é entendido como espaço onde se dão as relações humanas, projetadas intencionalmente, e considera as vertentes político-administrativas, culturais e econômicas de determinados grupos sociais. O processo de territorialização implica na produção de vínculos sociais, econômicos, políticos, religiosos e simbólicos, construídos pelos atores sociais sobre seus respectivos espaços biofísicos, em especial, o território. Por sua vez, o processo de desterritorialização, genericamente, significa a destruição do território enquanto espaço construído historicamente. A desterritorialização vai além da mobilidade e dos fluxos migratórios. Ela se destaca precarização territorial dos que sentem a perda do controle físico e de referências simbólicas sobre seus territórios. Está em curso a construção de duas usinas hidrelétricas no complexo do Rio Madeira, estado de Rondônia, que pode provocar um processo de desterritorialização de populações tradicionais sem precedentes no estado. Este ensaio buscou, a partir de uma pesquisa bibliográfica, caracterizar os custos socioculturais e econômicos com o processo de desterritorialização dos povos tradicionais a partir da construção de grandes projetos hidrelétricos nos territórios desses povos, tendo como base as usinas do Rio Madeira.